Sou a Mariana, trabalho como rececionista e vivo com os meus pais e com o meu filho de nove anos. Eles são o meu grande suporte. Há dois anos divorciei-me e as coisas não correram nada bem, acabei mesmo por ser internada na ala de psiquiatria do hospital e quando saí fui encaminhada para a equipa do SIM.

Quando tinha 35 anos fui diagnosticada com perturbação obsessivo compulsiva mas agora percebo que desde os 15 anos tenho pensamentos perturbadores e angustiantes.

Tinha medo de magoar alguém na escola e pensava com frequência que alguém da minha família podia ficar gravemente doente. A única forma de contrariar esses pensamentos passava por repetir tudo o que tinha feito até esse momento e isso incluía ações como: tomar banho novamente mesmo tendo acabado de sair da banheira, repetir ou reformular frases que tinha dito, voltar a ler as mesmas páginas do livro que estava a ler,  fazer o mesmo caminho várias vezes, e muitas outras coisas como esta.

Tinha que fazer todas estas coisas repetidamente até “limpar” o pensamento, caso contrário ficava muito ansiosa. 

Com o passar do tempo isto foi piorando. Já não tinha controlo sobre a minha mente e sobre a minha vida. Os meus pais achavam que eu tinha enlouquecido, mas não queriam que eu fosse ao médico, por medo ou por vergonha.

Além da constante ansiedade, comecei a ter vergonha destes comportamentos e comecei a isolar-me. As relações com os meus amigos desapareceram e os meus pais também evitavam sair de casa para ficarem sempre atentos ao que eu pudesse fazer. Ainda assim, concluí o ensino secundário, fiz um curso técnico e arranjei emprego como administrativa numa empresa, onde conheci a pessoa com quem casei e tive um filho.

A experiência da gravidez foi muito intensa e, para além de todos os outros comportamentos que descrevi, comecei a ter uma necessidade incontrolável de lavar as mãos por medo de que alguma substância tóxica pudesse prejudicar o meu bebé. Foi a obstetra quem se apercebeu destes meus comportamentos e me encaminhou para uma consulta de psiquiatria.

Foi já no último trimestre da gravidez que fui à tal consulta de psiquiatria e, pela primeira vez, senti-me compreendida.

Depois do nascimento do meu filho, e com todas as mudanças que isso implicou, iniciei acompanhamento regular e fiz tratamento com medicação e com sessões de terapia, que muito me ajudaram a aliviar o sofrimento, que foi tendo fases melhores e piores ao longo do tempo. Mas com o divórcio tive uma enorme recaída. Voltei para casa dos meus pais e acabei por ser novamente internada. Hoje tenho 45 anos e sou acompanhada pela equipa do SIM num trabalho articulado com a psicóloga, a terapeuta ocupacional e a enfermeira. Os meus pais e o meu filho, que também sofreram imenso com tudo isto, também são acompanhados.

Já começo a controlar a minha ansiedade e a reduzir os comportamentos indesejados. Começo também a aumentar a minha autoestima e a sensação de bem-estar.  Neste momento já sou capaz de aplicar a maior parte das técnicas trabalhadas autonomamente e, apesar da cronicidade da minha doença, sinto que os pensamentos e rituais já não controlam a minha vida. 

Revê-se nesta história de vida ou conhece alguém numa situação semelhante? Nós podemos ajudar.