Um dia fui pedir ajuda ao Centro de Saúde da minha área de residência e fui atendido pelo meu médico de família que não conseguiu perceber que eu estava mesmo mal. Ninguém era capaz de perceber como eu estava. No dia seguinte, fruto de um enorme turbilhão que tinha na minha cabeça, tentei matar-me com comprimidos, mas não tive sucesso. Passado este episódio, surgiu nova oportunidade para me tratar ao ingressar numa entidade de saúde para tratamento dos problemas de dependência do álcool. A minha filha tinha-me implorado que fosse mas, mais uma vez, não parei de beber e não fui admitido para o tratamento.
Estava cada vez mais irritado, ficava agressivo com a minha esposa, com a minha filha e com os médicos que me tentavam ajudar.
Eram fracassos atrás de fracassos . Até que a minha família entendeu que já não havia nada a fazer e deixaram de se preocupar comigo. Quiseram que eu saísse de casa, ou saíam elas. Já não havia condições. Até que a assistente social do Centro de Saúde me encaminhou para a equipa do SIM, numa última tentativa para resolver os meus problemas.
Quando cheguei lá estava impaciente e nervoso, mas lúcido para assumir o meu problema a quem me recebeu: “Bati no fundo, preciso de ajuda”. Nunca o tinha assumido. Nunca tinha reconhecido que estava doente e que precisava de ajuda para sair do buraco onde me tinha metido.
Só depois de perceber que tinha uma doença é que foi possível sensibilizarem-me para o tratamento que consistia na redução de consumos, prevenção de recaídas, desintoxicação e, claro, ingressar numa entidade de saúde. Depois de aceitar tudo isto fui também acompanhado por outros profissionais de saúde para conseguirmos delinear um plano de gestão de risco. Toda esta intervenção foi trabalhada em conjunto com a minha esposa e com a minha filha. Ao longo destes anos a minha família sofreu muito com esta minha dependência e foram, inevitavelmente, muito abaladas a nível social e financeiro.